”Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais! “
“Meus oito anos” - Casimiro de Abreu
A primeira vez em que eu li essa poesia, eu era muito nova para poder sentir falta da minha infância. Devia ter por volta dos meus 13, 14 anos e o que eu mais queria era ser “gente grande”. Quando cheguei ao Ensino Médio, o professor de literatura a recitou em uma de suas aulas, e para minha grande surpresa, eu já conhecia. Era apaixonada por poesia, mas não sabia que conhecia algumas de autores tão renomados. E esse trecho, foi o trecho que eu sabia de cor e só fui saber disso quando comecei a recitá-lo junto com o professor, bem discretamente para ninguém ver.
A partir daí, essas palavras marcaram minha vida. Não consigo ouvir alguém falar em “aurora”, sem começar a recitá-la. Sempre me lembro de meu professor que não só falou esta, mas muitas outras e sempre me fazia mergulhar em cada palavra dita das histórias dos livros que contava em aula.
Hoje, além disso, essa poesia me marca por outro motivo. A minha infância passou e eu, mesmo não tendo desejado freneticamente crescer, queria saber como era ter uma vida de adulto e, como todas as outras crianças, sempre ouvia os mais velhos dizerem: ”ah, não tenha pressa em crescer. É tão bom ser criança. Tenho tanta saudade de minha infância, das brincadeiras, dos meus amigos.”.
A vida não volta para trás e não podemos voltar a ser criança, o que nos resta é a saudade daqueles dias. Lembro-me que era capaz de ficar a tarde toda deitada na cama, assistindo TV Cultura e, quando chegava as 19:00 horas, o horário acabavam os desenhos infantis, parecia que nada mais tinha graça. Eu ficava o tempo todo mudando e votando para o canal, só para ver se, por um milagre, eles colavam os desenhos de volta (nunca colocaram).
Tenho saudade de correr no prédio, andar de bicicleta, de ralar o mesmo joelho todas as vezes que eu caia. Tenho saudade da minha escola, do medo que eu tinha dos professores se me pegassem dormindo em suas aulas (por isso eu nunca dormia), do medo da diretora ligar para a minha mãe por causa do livro de espanhol que eu sempre esquecia. Tenho saudade de poder abraçar minhas amigas às 7:00 horas da manhã no pátio do prédio do Ensino Médio. Tenho saudade de sair do colégio, chegar em casa e poder simplesmente fazer nada.
Não que eu ache ruim a minha vida de hoje, graças a Deus eu posso trabalhar, estar na faculdade e construir meus sonhos, coisas que quando criança eu não podia. Estou criando minha independência e por mais que isso me deixe insegura às vezes, eu me sinto feliz por ver que meus esforços estão fazendo com que eu caminhe. Saber que tudo que eu passei até hoje se tornaram em pontes para que eu pudesse alcançar meus objetivos. Claro que eu ainda tenho muitos obstáculos para atravessar, mas tudo faz parte da vida e é superando as lutas e as dificuldades que aprendemos a dar valor as vitórias.